Acervo da Luta Contra a Ditadura

 

Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento__

  O SISNI era composto, durante o período autoritário, por 16 (dezesseis) órgãos especializados, estruturados em forma de malha que ia da centralização em nível federal até as atividades de coleta e busca nos setores mais específicos em nível local, espalhados pelo país.
  O órgão centralizador do sistema era o SNI (Serviço Nacional de Informações). As DSIs (Divisão de Segurança e Informação) e as ASIs (Assessorias de Segurança e Informação) eram as ramificações que produziam informações dentro dos ministérios civis e dos organismos e empresas federais.
  As segundas seções do EMFA (Estado Maior das Forças Armadas), as F2; do Exército, as E2; da Marinha, as M2; da Aeronáutica, as A2; dos três ministérios militares, as S2; o CIE (Centro de Informações do Exército); o CIA (Centro de Informações da Aeronáutica); os Serviços Secretos da Polícia Federal; as DOPS e os Serviços Secretos das Polícias Militares (P2), e os CODI-DOIS (Centro de Operações de Defesa Interna - Destacamento de Operações Internas), também faziam parte da malha da Comunidade de Informações do país na ditadura militar. Muito dessa malha persiste até hoje, viva e atuante.
  O SNI, principal e originário órgão de informações do regime militar, foi formalmente criado pelo Decreto-Lei n° 4341, de 13/06/64, como organismo de assessoramento do Executivo (Conselho de Segurança Nacional e o Presidente). Desde o início deteve a prerrogativa de manter em sigilo todas as suas informações, podendo decidir inclusive quais seriam repassadas ao presidente da República. Além das informações, toda a estrutura e funcionamento do SNI podiam ser resguardadas, assim como a utilização de serviços e colaboração de civis, militares, funcionários públicos ou qualquer cidadão, remunerados ou não.
  Segundo Stepan (1986) o sistema brasileiro de inteligência, durante a ditadura militar, foi o mais autônomo e poderoso da América Latina ditatorial e até mesmo, em certo sentido, do mundo. Comparando com outras ditaduras, como por exemplo na Argentina, Uruguai e até mesmo URSS, o SISNI atingiu o mais alto nível de expansão, por via legal, e institucionalização dentro do aparelho de Estado. Isso devido ao grau de prerrogativas que assumiu para si o SNI (órgão centralizador), com uma autonomia burocrática sem paralelo nas demais nações democráticas ou autoritárias do mundo.
  Uma outra importante característica marcou o SNI a partir de 1968: militarizou-se de tal forma que transformou-se em numa verdadeira quarta força armada, embora não uniformizada.
  Em 1971 o SNI criou a sua própria escola, a EsNI (Escola Nacional de Informações). Em 1973 o curso avançado de informação da ESG (Escola Superior de Guerra) foi desativado, consolidando-se o monopólio na formação de agentes de inteligência do SNI. A ESG, através da Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento, por ela formulada, continuou influenciando a formação de agentes de inteligência mesmo após a desativação de seu curso avançado.
  Os organismos criados inicialmente de forma paralela ao SISNI, aos poucos foram por ele absorvidos leal ou clandestinamente, como é o caso da antiga OBAN (Operação Bandeirantes), mais tarde incorporada pelo próprio Exército, através do CODI-DOI do II Exército, que inspirou a atuação dos DOI-CODIs de todas as regiões militares do país.
  A estreita ligação entre o SNI e o Exército permitiu a relação entre os organismos civis e militares de espionagem e repressão política durante a ditadura militar. Houve um processo de predominância cada vez maior do controle militar sobre essas atividades, mas sempre com o apoio material e ideológico das elites civis.

Fragmento de ESPIONAGEM POLÍTICA: Instituições e Processo no Rio Grande do Sul, Sinara Porto Fajardo, 1993 - Dissertação de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Sociologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Veiculação autorizada pela autora